Por: Globo Rural
Alterar de uma hora para aproximadamente 10 minutos a pulverização de defensivos em um hectare de videiras.
Essa é uma das vantagens do drone Agras T40, da marca chinesa DJI, apresentado pela RL Tekno Soluções durante a segunda edição do evento “Ciclos & Vinhas: Semeando a Sustentabilidade”, promovido pela vinícola Salton, em Bento Gonçalves (RS).
O evento levou até a sede da vinícola, no final de maio, mais de 20 fornecedores em uma mostra técnica focada em tecnologia e inovação, além de uma série de palestras - voltadas a boas práticas de cultivo da uva -, reunindo em torno de 300 produtores parceiros da Salton.
Além da agilidade e consequente economia de tempo, o drone de última geração, aplicado na viticultura 4.0, também oferece uma economia significativa no uso de água.
“No modo convencional, o agricultor acaba utilizando em torno de 500 a 600 litros de água por hectare. Com o drone, o uso reduz para 30 a 40 litros por hectare”, explica Renato Pasin, diretor comercial da RL Tekno Soluções, em entrevista à Globo Rural.
O equipamento possui um sistema de discos atomizadores para a pulverização, o que possibilita selecionar o tamanho da gota, considerando a fase vegetativa da planta.
Outro diferencial é que o drone conta com vários radares e o sistema permite que seja feito um mapeamento da área, com base no qual ele atuará de maneira autônoma.
Segurança
“Um ponto positivo é que o agricultor não tem contato com o produto químico durante a aplicação, ele opera apenas por meio do console. Além de facilidade e praticidade, o drone oferece segurança”, ressalta Pasin.
O executivo destaca que a inserção do produto na região de Bento Gonçalves - uma das mais importantes áreas produtoras de uva no país - vem ocorrendo há um ano e meio e ganha terreno aos poucos.
Já bastante utilizado nas culturas de grãos como soja e milho, o drone pulverizador não é comumente usado em parreirais. Além disso, o perfil dos agricultores que se dedicam à atividade é considerado tradicional.
A empresa aposta na conquista do público mais jovem, levando em consideração a característica familiar das propriedades da região. “O uso desse tipo de tecnologia acaba evitando o êxodo rural, pois os filhos retornam ao campo para ajudar os pais a trabalhar com essas inovações”, comenta.
A automação no campo e o uso da tecnologia para ampliar a produtividade e garantir um manejo mais sustentável das videiras são apontadas como tendências do setor.
Dessa maneira, Pasin observa que assim que o agricultor percebe o custo-benefício do uso do drone, com foco na eficiência e na sustentabilidade, a aceitação é facilitada.
Economia
O Crops - Sistema de Monitoramento de Doenças - foi outra novidade apresentada no evento Ciclos & Vinhas.
Desenvolvido em parceria entre a startup Jahde Tecnologia e a Embrapa Uva e Vinho, o sistema informatizado que utiliza inteligência artificial (IA) auxilia os produtores no monitoramento e prevenção de doenças, principalmente o míldio da videira - também conhecido como mufa, mofo ou peronospora -, uma das doenças mais prejudiciais à cultura da uva.
A demanda foi apresentada à Embrapa pela Cooperativa Vinícola Aurora, também localizada na serra gaúcha.
O sistema de monitoramento funciona por meio de uma miniestação meteorológica, que é instalada no vinhedo para coletar dados como temperatura, pressão atmosférica, umidade relativa do ar, molhamento foliar e quantidade de chuva, e identificar a condição favorável para o surgimento e desenvolvimento do míldio.
Com base nos dados coletados, o Crops envia alertas diários personalizados, baseados nas condições climáticas e em características da propriedade.
O engenheiro Haroldo Tonetto, diretor da Jahde Tecnologia, salienta, em entrevista à Globo Rural, que essa é uma tecnologia nacional, desenvolvida em Lajeado (RS), viável para o pequeno produtor rural. Até então, a tecnologia existente era importada, acarretando em um custo mais alto.
“Por meio do sistema, o produtor recebe informações diárias no celular, a fim de acompanhar se há condições para o desenvolvimento da doença”, comenta Tonetto. Com isso, o produtor pode planejar a aplicação de defensivos juntamente com o responsável técnico pela videira.
A economia gerada pelo acesso às informações do sistema é uma das vantagens. Em vez de aplicar o defensivo agrícola de cinco em cinco dias, por exemplo, o agricultor pode fazer a aplicação de maneira mais eficiente, a cada dez ou 15 dias.
A tecnologia já é usada por mais de 100 viticultores na serra e campanha gaúchas, além do Paraná. “Em cerca de 500 hectares de área cultivada, houve uma economia de aproximadamente R$ 1 milhão, somente em defensivos agrícolas”, afirma Tonetto.
O produtor recebe a estação em sistema de comodato, com custo anual de R$ 5 mil. Além disso, paga R$ 600 - uma única vez - para instalação. O engenheiro enfatiza que “o sistema se paga, a partir de quatro hectares já é viável”.
Dados disponibilizados pela Vinícola Aurora com exclusividade para a Globo Rural mostram que, após três anos de testes, o Crops é considerado de alta confiabilidade. Atualmente o sistema cobre 16% da área total cultivada pelos cooperados da vinícola e a meta é ampliar esse percentual para cerca de 20%. O objetivo é alcançar 50% de terras cultivadas num período de cinco anos.
Ainda segundo a cooperativa, desde a safra 2020/21 foi possível reduzir o número de aplicações. Em 2022, nas variedades americanas, houve redução de quatro aplicações (22%). A economia calculada com base nos últimos três anos é de cerca de R$ 600 por hectare cultivado.
Mão de obra
O evento “Ciclos & Vinhas: Semeando a Sustentabilidade” é realizado há 13 anos pela Salton. Antes denominada como Dia de Campo, a iniciativa ganhou novo formato no ano passado, mantendo o objetivo de capacitar a mão de obra local.
Na edição deste ano, a programação contou com informações relativas a todas as etapas do cultivo da uva, práticas ESG, gestão de custos de produção agrícola e contratação de mão de obra sazonal, com foco em direitos humanos e trabalhistas.
Este último tema integra as ações referentes ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela Salton, Aurora e Vinícola Garibaldi, junto ao Ministério Público do Trabalho, após o caso do resgate de 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão, em fevereiro.
Jovens
Além de produtores rurais, o evento recebeu estudantes e professores do curso Técnico em Viticultura e Enologia integrado ao ensino médio, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - campus de Bento Gonçalves.
Taís Fabro, aluna do 2º ano do curso e filha de um produtor rural de Farroupilha (RS), ficou empolgada com as inovações apresentadas na mostra técnica. “Me sinto lisonjeada de poder levar informações sobre essas tecnologias para casa e, assim, ajudar a melhorar o funcionamento da propriedade”, frisa. Ela conta que pretende seguir com os estudos para atuar na área da vitivinicultura.
Da mesma forma, Eric Tresador, aluno do 3º ano, quer atuar na propriedade da família, em Monte Belo do Sul (RS). “Pretendo continuar no negócio e participar de eventos assim nos permite ver de perto as tecnologias mais recentes e ainda obter bastante conhecimento técnico”, avalia.
O professor Honorato Jonas Faguerazzi, coordenador do curso, incentiva os estudantes a participarem e aprimorarem o aprendizado. “É uma alegria ver que nossos alunos estão permanecendo na área, há muitas possibilidades de trabalho”, observa.
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